Um
estranho no espelho
“Eu
me olho no espelho e não me reconheço... E estranho a minha voz.
Partes do meu corpo também são estranhas... O mundo parece irreal,
um sonho constante. Não sei explicar!” diz a estudante de
biomedicina Ana, 21 anos, que sofre de transtorno de
despersonalização e desrealização, um tipo de transtorno
dissociativo.
Nos quadros dissociativos há um comprometimento
da percepção do indivíduo em relação à consciência, memória,
identidade e ao ambiente à sua volta. Em situações normais, essas
funções devem ser reconhecidas como únicas e interligadas.
Podem
ocorrer sensação de anestesia sensorial (sentidos menos sensíveis
aos estímulos do ambiente) e sentimento de perda de controle de
algumas funções, como a da fala. A despersonalização pode ser
resumida como uma sensação de irrealidade para com o próprio
corpo. É como se ele não fosse do indivíduo ou não
existisse.
Problemas
em comum
Com
a sensação de que o mundo parece irreal, um sonho, a pessoa se
sente como se estivesse “dentro de um filme”, onde tudo ao seu
redor parece estranho e mecânico. Na desrealização, os objetos
podem ser percebidos de maneira alterada no tamanho e na forma
(macroscopia e microscopia). A desrealização pode estar presente
sem a despersonalização. Nesse caso, os problemas de percepção
estão ligados com a realidade e não com o corpo.
A psicóloga
Giovana Tessaro explica que a despersonalização e a desrealização
podem ser sintomas de outros problemas. “Elas podem surgir em
outros quadros patológicos como depressão maior, transtorno de
estresse pós-traumático e abuso de substâncias tóxicas. São
bastante comuns em ataques de pânico”. Nesses casos, se a causa do
problema for tratada, a despersonalização e a desrealização
tendem a desaparecer. “O maior número de casos com sintomas de
despersonalização e desrealização são concomitantes a doenças
como essas. É difícil encontrar um paciente apenas com transtorno
de despersonalização”, diz a psicóloga.
O
transtorno de despersonalização é diagnosticado quando não há
outra doença presente e a frequência dos sintomas causa muito
sofrimento e prejuízo na qualidade de vida do paciente. Nos quadros
de despersonalização e desrealização crônicas, a angústia do
indivíduo pode ser tão intensa a ponto de causar desejo suicida, o
que requer ajuda especializada rápida.
Tensão
cerebral
Há evidências de hiperativação interna do
córtex pré-frontal (área do cérebro envolvida na tomada de
decisões e controle emocional) e hipoativação das amígdalas (onde
ficam registradas as memórias emocionais). Isso estabelece um estado
contraditório de hipervigilância e apatia. O cérebro está sempre
alerta, mas as emoções são fracas. E essa tensão cerebral causa
muito cansaço e indisposição.
Podem existir sintomas
de ansiedade e depressão, pensamentos obsessivos e confusão quanto
ao sentido do tempo, que parece passar muito rapidamente. Sonolência
excessiva, sensação de não existir e de cabeça vazia e pressão
na cabeça são comuns nesses pacientes.
Pessoas com
despersonalização e desrealização apresentam dificuldades para
sentir emoções e identificá-las. Há a lembrança dos fatos
intelectualmente, mas não emocionalmente. Existem também problemas
de concentração, percepção, memória e tendência ao
isolamento.
O estudante de publicidade Hugo Galvão, de
22 anos, teve várias crises de pânico que culminaram em
despersonalização. Mesmo com o fim das crises, o quadro continuou.
Galvão procurou vários médicos e psicólogos, mas nenhum conseguiu
identificar o transtorno. Foi orientado a tomar um antidepressivo que
agravou os sintomas. Ele descobriu o problema através de pesquisas e
fóruns na internet. “Começou há mais ou menos um ano. Não
consigo sentir as mesmas emoções de antes. A natureza, um passeio
em uma noite estrelada antigamente eram motivos de muita alegria.
Hoje, por mais que eu tente, não consigo sentir emoções como
antes”, lamenta.
Hugo também reclama de problemas
sensoriais. “O que mais me incomoda é sentir meu corpo flutuando.
Vejo os objetos com tamanho ampliado, não sinto partes de meu corpo,
geralmente do lado esquerdo. A visão fica embaçada, falta
concentração. Já fui quase atropelado por causa da percepção
ruim”.
A dor de não conseguir sentir as emoções
satisfatoriamente pode levar ao desespero quem sofre de
despersonalização e desrealização. Esse tipo de comportamento
pode fazer com que o indivíduo se coloque em situações arriscadas
ou viva de forma turbulenta.
Frustrada com sua
insensibilidade devido ao mesmo problema de Hugo, a psicóloga Carla,
de 25 anos, fica agressiva. “Tenho impulsos agressivos sim, devido
ao fato de estar nessa situação. Tem dias em que não me conformo
com minha condição. Já quebrei celular, quebrei um dente da minha
mãe, quebrei secador, tudo por conta de perceber que não sinto
nada”, desabafa.
Consciência
paralela
A psicóloga e pedagoga Sandra Silva acredita que
as oscilações de humor entre apatia e agitação, falta de
concentração e percepção e em alguns casos agressividade podem
levar a diagnósticos equivocados como transtorno bipolar, transtorno
de personalidade borderline, ciclotimia ou transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH). “A medicação usada no TDAH,
Ritalina, é perigosa para quem tem despersonalização e
desrealização. Os sintomas são os mesmos, mas os cérebros
funcionam de formas opostas”.
Para Jorge Teixeira,
situações traumáticas têm papel importante no quadro
dissociativo. “Isso ocorre como uma reação a um
acontecimento traumático, criando um bloqueio da consciência em
relação ao evento. Dessa forma o indivíduo cria uma ‘consciência
paralela’, evitando entrar em contato com as lembranças ruins”,
explica.
Sandra Silva afirma que a despersonalização e
a desrealização podem ter início na infância. “Quando a
realidade do meio é dura demais para a criança, algo acontece em
sua mente. Em vez de lidar com essa realidade difícil, joga as
informações no inconsciente e começa a viver no seu mundo
paralelo, desenvolvendo uma forma possível de sobrevivência”,
diz. Sandra explica que a mente faz isso independentemente da vontade
da pessoa e que o cérebro fixa esse novo comportamento com o passar
do tempo.
Giovana Tessaro também liga a dissociação a
problemas no lar. “Traumas, situações de abuso, desamparo e
abandono ocorridas principalmente na infância são a causa do
problema. Na medida em que os traumas são resolvidos os pacientes
melhoram a percepção de si e do mundo”.
Sandra diz
que os pais precisam ficar atentos a qualquer sinal de isolamento da
criança. “Se notarem excessivo isolamento, encaminhem-na a um
profissional, que terá meios de identificar o problema. Quanto mais
cedo o tratamento iniciar, maiores serão as chances de recuperação,
pois o cérebro ainda não se fixou a esse modo de funcionar”,
aconselha. Os pais precisam ter em mente que devem fazer do lar um
lugar seguro e saudável.
Além de traumas de infância,
toda situação de estresse extremo, dor, conflito ou perda podem
desencadear a doença.
Drogas
Além
da despersonalização e da desrealização causada por traumas e
estresse, há exemplos de casos originados por uso de drogas e
álcool. A estudante Vanessa, de 22 anos, com dificuldade para
controlar a ansiedade, fez uso de maconha para relaxar. Enquanto
usava a droga, ela sofreu uma crise de pânico seguida de
desrealização permanente. “Agora eu sei que a maconha pode
começar uma desrealização. Descobri da pior forma”, lamenta.
Devido
ao estado de ansiedade e estresse constantes na despersonalização e
desrealização, é preciso tomar cuidado com tudo o que altere a já
estimulada química cerebral. A medicação receitada precisa ter
base em estudos publicados sobre o tema.
Larissa
Jansson é jornalista
[Fonte:
Vida e Saúde – Jul 2011, p.47 a 49]
Vivo assim há muito tempo. Não consigo fazer nada direito. É simplesmente apavorante e ainda tenho ataques de pânico seguido de medo de ficar louca. Toda vez que tenho uma crise tenho essa sensação de cabeça oca. Não consigo sair de casa e falar fica muito estranho. Puá! Coisa mais chata.
ResponderExcluirVocê tem isso a quanto tempo?
ExcluirNão sei mais o que fazer, não consigo saber ou sentir mais o que é real. Tenho essa sensação, a todo tempo, de que tudo é mentira, de que todos estão desempenhando papéis irreais, fingindo. Tudo ao meu redor parece falso, uma encenação.
ResponderExcluirMe pergunto o tempo todo se eu estou doente ou se na verdade apenas tomei consciência de como as coisas realmente funcionam no mundo. Às vezes, todos sentem isso também, mas conseguem disfarçar melhor do que eu...Afinal, todos temos uma sombra, mas cada um lida com ela de uma forma diferente. Eu só não consigo mais ter controle sobre a minha.
É horrível sentir isso, tento me prender à rotinas, arrumar minha casa, me concentrar em meus estudos, fazer planos de vida, mas no final tudo perde sentido, e quando vejo estou jogada na minha cama, com medo de sair de casa e me deparar com situações irreais. As coisas mais simples da vida se tornaram extremamente dificeis, todo semestre da faculdade é uma luta para que eu consiga ir às aulas, concentrar nas provas e lidar com professores e alunos. Desenvolver relações humanas se tornou impossível, acabo sentindo que todos estão mentindo, vivendo mentiras, e não se expressando inteiramente.
Tento ir atrás de explicações religiosas, espirituais, esotéricas, busco o sentido da vida, tento praticar esportes, escrever, desenhar, mas acaba que tudo, uma hora ou outra perde sentido, se torna abstrato...Nada é real, é tudo uma questão de percepção, e a minha percepção se encontra extremamente frágil e cansada para enxergar qualquer sentido.
to 1 tempinho assim ja tbm to a uns 3 meses nao consigo mais me reconectar ao undo parece mtmt chato isso, so quando fumo maconha vejo graça na vida dnv..
ExcluirEstou em uma situação muito parecida a 3 anos, houve melhoras, mas parece que agora deu uma estagnada, penso muito se estou enlouquecendo ou algo do tipo. Sempre fui muito seguro de mim e racional... o que dói me ver nesse estado. Gera fobia de quase tudo... como se eu tivesse que fingir viver...E a angustia virou minha sina! Angustia dia e noite ;\
Excluirme sinto assim como se eu estivesse mentindo ás pessoas não entende
ExcluirTambem estou passando por isso já tem uma semana e orrrivel . quem estiver disposto a me ajudar .agradeço muito
ResponderExcluir093992283820 me ajudem agora mesmo tive um ataque de panico muito ruin
ResponderExcluirestou ha mais de 10 anos assim mas luto comigo mesmo dia apos dia estou me sentindo melhor porque de algum jeito acredito em mim e faço as coisas q sempre foram um sonho se tornarem realidade mesmo tomando um rumo nao tao facil na vida. Enquanto escrevo isso meus olhos doem muito a ponto de nao saber mais focar onde quero; ouço vozes que nao estao aqui; hoje percebi q meus braços nao me pertenciam e q quando me olho no espelho eu enxergo ele lá dentro de meus olhos na minha alma tentando me destruir, algo q chamo de 'meu lado ruim'.
ResponderExcluirBom dia!
ResponderExcluirEstou assim sofrendo da despersonalização, não quero isso para ninguém, eu era feliz mas tudo foi lançado ao vento minha qualidade de vida se foi, sem contar o mundo capitalista dos psiquiatras. Mas entreguei a minha vida a Deus, sei que não falha e faz justiça no tempo certo! Se alguém sentir de trocar experiências. Meu email é mhaylson@hotmail.com. Deus abençoe a todos...
Caraca.. me identifiquei com 90% dos sintomas e casos aqui citados.. além da matéria. Alguém conseguiu ajuda e se curou?
ResponderExcluirEstou com isso ha quase 2 anos, fiz exame de vista não deu nada.. tenho a vista boa e isso me deixou mais triste pois pensei q seria curado ali, mas os sintomas continuaram. Parece q estou num sonho, nada é real, tudo que estou fazendo parece ser só um filme, q na verdade não estou vivendo os momentos.. perdi a capacidade de vislumbrar a natureza.. antes eu tinha uma ligação incrivel com a natureza.. ja não sinto emoção.. sensação de bem estar em estar em lugares lindos.. o prazer, concentração, percepção sumiram. não tenho mais a msm confiança e vontade de fazer as coisas.. chega ate a ser um certo medo de faze-las. Parece q é o início de uma loucura e isso me assusta. Parece q eu preciso tomar um remedinho q me acorde de novo.. q eu volte a viver de novo.. q acendesse minha mente e voltasse a enxergar normalmente. Poderia existir esse remedinho! Ainda não procurei um médico além de um oftalmologista.